INTRODUÇÃO
Apesar da sua reduzida dimensão, Portugal apresenta uma enorme variabilidade de condições de orografia, solos, clima, estrutura fundiária, tradições sociais e culturais, entre outras, de que resulta uma muito acentuada diversidade de condições ambientais. Em consequência desta diversidade, assim como da posição estratégica que Portugal ocupa (constituindo ponto de passagem para muitos povos ao longo dos tempos, com as influências genéticas que tal implica), os animais domésticos foram sendo criados e selecionados em nichos ecológicos específicos, em que a adaptação a condições ambientais particulares foi o aspeto fundamental.
As raças autótones portuguesas fazem parte integrante do património histórico e cultural do País, e atualmente ainda fazem parte do meio rural, onde desempenham um importante papel na fixação das populações e no equilíbrio ecológico e de diferentes manifestações de caráter gastronómico, social, cultural. Apesar de, em muitos casos, as raças autótones apresentarem níveis produtivos mais reduzidos que algumas raças exóticas ou seus cruzamentos, elas têm uma capacidade única de tirar partido de condições ambientais muitas vezes adversas e restritivas, em que as raças exóticas não conseguem produzir, ou mesmo sobreviver.
Os sistemas de produção característicos das raças autótones são predominantemente extensivos, utilizando recursos naturais de que outros genótipos mais exigentes não conseguem tirar partido. São assim estas raças que mantêm as populações rurais em regiões desfavorecidas, num perfeito enquadramento com o ecossistema de que são parte integrante.
No séc. XX, com a intensificação da produção agrícola, algumas raças portuguesas desapareceram, e muitas estiveram seriamente ameaçadas de extinção, tendo havido um notável esforço nacional no sentido de salvaguardar estes recursos únicos. Este esforço assentou, fundamentalmente, numa estratégia de defesa dos RGAn autótones claramente assumida pelos Serviços Oficiais, sobretudo a partir da década de 1980. A base essencial desta estratégia foi a convicção de que o trabalho de conservação e utilização sustentável dos RGAn seria da competência das Associações de Criadores, que na altura não existiam ou não estavam consolidadas na maioria das raças. Consequentemente, a base desta estratégia foi o apoio à implementação de Associações de Criadores para cada raça, tendo estas tomado a seu cargo a aplicação de Programas de Melhoramento previamente aprovados pelos Serviços Oficiais do Ministério da Agricultura, que disponibiliza meios técnicos e financeiros para apoio a estes programas.
Esta filosofia, conjugada com as alterações entretanto ocorridas na Política Agrícola Comum, teve um contributo decisivo em travar a regressão dos efectivos de raças autótones que se vinha observando em Portugal desde meados do séc. XX.” (Recursos Genéticos Animais em Portugal, Relatório Nacional, Junho 2004, INIAP).
Paragraph..